No último dia 24 de novembro, o programa Bate-Papo Cultural, conduzido pelo professor Albertinho, proporcionou uma imersão no impactante legado de Mãe Madalena (in memoriam), fundadora do Ilê Axé Ogunté, um terreiro que enraizou-se há duas décadas em Aquidabã. A entrevista reuniu Elisimar, Moacir e Evanda, filhos de santo de Mãe Madalena, e contou com a participação remota de Maria Ádilla, filha biológica e atual Ialorixá do terreiro, compartilhando conosco a notável trajetória dessa líder espiritual.
Imagem de Mãe Madalena
Mãe Madalena construiu uma comunidade vibrante com cerca de 150 filhos espirituais à época, além de prestar assistência à comunidade. Sua vida foi um testemunho de caridade, guiada pela maternidade de santo, acolhendo a todos, independentemente de raça ou classe social. Os entrevistados enfatizaram que "Mãe Madalena era uma verdadeira mãe de todos", compartilhando generosamente e respeitando profundamente os orixás.
Moacir, Evanda e Elisimar
A líder espiritual iniciou sua jornada no axé Ilê Obá em São Paulo e, posteriormente, em Aquidabã, fundou este espaço de matriz africana que impactou vidas ao guiar espiritualmente como uma líder religiosa ímpar. Sua partida deixou um vazio, uma "perda de conhecimento", nas palavras de Maria Ádilla - “Ela foi um marco para Aquidabã, consolidando o primeiro espaço de candomblé da cidade“. A Ialorixá compartilhou ainda as palavras de sua mãe em sua partida: "Minha filha, a cadeira é sua e toma conta do meu Axé, pois nunca sairei do seu lado."
Axé Ilê Ogunté
Segundo os entrevistados, o nome do terreiro reflete a ligação de Mãe Madalena com Iemanjá, enfatizando o caráter matriarcal do candomblé, guiado pela força da mulher. Maria Ádilla destacou que as escolhas na religião são feitas a partir dos orixás, seguindo a tradição.
A construção do "barracão", sede do terreiro, foi possível graças à união dos filhos da época, que ergueram as paredes, e ao deputado federal João Daniel, que contribuiu com o telhado. Atualmente, O Ilê Axé Ogunté é uma entidade filiada à Federação dos Cultos Africanos Umbandistas do Brasil, e recentemente, tomou posse no Conselho Municipal do Desenvolvimento Sustentável – CMDS, de Aquidabã, como instituição religiosa do segmento da sociedade civil organizada.
Axé Ilê Ogunté
Maria Ádilla expressou sua gratidão pelo espaço dedicado à homenagem e destacou uma questão crucial: a perpetuação do preconceito pelo entendimento equivocado do candomblé na sociedade, ressaltando que Mãe Madalena, com sua vida e ensinamentos, desafiou esses estigmas, deixando para seus seguidores a responsabilidade de seguir e preservar seu legado, uma missão de amor, respeito e espiritualidade que ressoa além do tempo.
Ao final do dia da entrevista, a presidente da Associação Comunitária de Comunicação e Cultura de Aquidabã, Mylena Rocha, esteve no Axé Ilê Ogunté para o Toque, um ritual com uso dos sons do atabaque e danças que abrem canal de comunicação com a espiritualidade. Nesse encontro, após o Toque, uma roda de conversa aconteceu, proporcionando aos irmãos de santo presentes a compartilharem com a radialista suas experiências no terreiro e mais sobre o legado de Mãe Madalena. Essa interação enriquecedora reforçou a importância de preservar não apenas a memória da líder espiritual, mas também os valores e ensinamentos das religiões de matrizes africanas, que ainda sofrem os mais diversos tipos de discriminações. A ACCCA mantém o seu compromisso com a diversidade e pluralidade de manifestações culturais e religiosas presentes em nossa comunidade.
Confira a homenagem completa em nosso Spotfy: